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Bebidas vegetais e refrigerantes: É tudo a mesma coisa?

8 Abr 2024 - 09:30

Bebidas vegetais e refrigerantes: É tudo a mesma coisa?

No Instagram, as bebidas vegetais de aveia e de amêndoa têm sido descritas, em algumas publicações, como alimentos não saudáveis. O autor de dois vídeos partilhados nesta rede social sugere, por exemplo, que a bebida de amêndoa “é a maior fraude do planeta, neste momento”. Isto porque, alega, esta bebida vegetal “aumenta o açúcar no sangue da mesma forma que a Coca Cola”.

Além disso, afirma ainda que a bebida de amêndoa “não é saudável”, porque, supostamente, o seu teor em ácido fítico “suga os minerais dos ossos” e o seu alto teor de oxalatos causa problemas de saúde, sobretudo nos rins. Mas terão estas alegações fundamento? As bebidas vegetais não são saudáveis e têm o mesmo impacto na saúde que os refrigerantes?

As bebidas vegetais e os refrigerantes têm um efeito semelhante na saúde?

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Na perspetiva de Sandra Silva, nutricionista e autora do blog e do livro “O Vegetariano”, “nem sequer faz sentido comparar” as bebidas vegetais e os refrigerantes, sobretudo, do ponto de vista da saúde.

Em declarações ao Viral, a nutricionista explica que “uma bebida vegetal pode ser recomendável” para um consumo diário, ao contrário de qualquer refrigerante, “que, idealmente, deve ser consumido de forma pontual”.

Em relação à alegação sobre o aumento de açúcar no sangue provocado pela bebida de aveia e pela Coca Cola, há várias questões a ter em conta.

Tanto a Coca Cola como a bebida vegetal de aveia são compostas por hidratos de carbono, por isso, naturalmente, vão provocar um aumento da glicemia, ou seja, dos níveis de açúcar no sangue. 

Tal como já tinha explicado a endocrinologista Joana Menezes Nunes, em esclarecimentos anteriores ao Viral, a velocidade com que os alimentos com hidratos de carbono aumentam a glicemia é indicada pelo índice glicémico (IG).

Têm um IG elevado os alimentos com um valor maior ou igual a 70, um IG médio aqueles com um valor entre 56 e 59 e um IG baixo os alimentos com um número igual ou menor que 55.

A Coca Cola e a bebida vegetal de aveia inserem-se na categoria de índices glicémicos médios (ver aqui e aqui).

Contudo, como também tinha referido Joana Menezes Nunes, o IG dos alimentos pode variar (aumentar ou diminuir), consoante alguns fatores.

Num texto publicado pela Escola de Saúde Pública de Harvard aponta-se que a fibra, a gordura, e o tipo de hidratos de carbono presentes num alimento podem alterar a sua carga glicémica, ou seja, o efeito real que um alimento tem na glicemia quando é ingerido.

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Sendo assim, como a Coca Cola é composta sobretudo por hidratos (dos quais 100% são açúcares) e não tem fibra nem gordura, acaba por ter um impacto muito maior nos níveis de açúcar no sangue do que a bebida de aveia, que é composta por outros nutrientes.

Noutro plano, frisa Sandra Silva, “apesar de algumas bebidas de aveia no mercado conterem açúcar adicionado, muitas não têm”.

Assim, “escolher as versões que não tenham açúcar adicionado acaba por ser mais interessante”, do ponto de vista nutricional, e “vai ter impacto no índice glicémico do próprio alimento e em termos dos níveis de açúcar no sangue”, sustenta.

Quanto às alegações feitas sobre a bebida de amêndoa, Sandra Silva adianta que “não existe evidência” de que esta bebida vegetal seja responsável por problemas de saúde, nem que vá “prejudicar a absorção de nutrientes da própria bebida vegetal ou de outros alimentos consumidos em conjunto”.

Segundo a nutricionista, é verdade que os frutos gordos, como a amêndoa, são compostos por dois antinutrientes: o ácido fítico e os oxalatos.

E, tal como a nutricionista Cláudia Marques já tinha explicado ao Viral, os antinutrientes “são compostos que se encontram naturalmente nos alimentos de origem vegetal” que “inibem a absorção de nutrientes (minerais e vitaminas)”. 

No entanto, salienta Sandra Silva, “não podemos extrapolar e dizer que as bebidas vegetais vão ter ácido fítico ou oxalatos em quantidade suficiente para perturbar a absorção de qualquer tipo de nutrientes ou ter implicações negativas para a saúde”.

Até porque “a quantidade de amêndoa que tem o produto final, a bebida vegetal, é muito reduzida”.

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Para mais, acrescenta, existem alguns alimentos de origem vegetal que são ainda mais ricos em oxalatos, “nomeadamente espinafres, ruibarbos e acelgas” [hortaliças]. E, mesmo nesses casos, “o consumo deste tipo de produtos não está desaconselhado para a maioria da população”, frisa.

Pessoas com suscetibilidades, que tenham, por exemplo, “uma maior tendência para ter cálculos renais de oxalato cálcio” têm apenas de “ter atenção para não consumirem esses alimentos em excesso” ou “ter alguns cuidados de preparação, especificamente para espinafres, ruibarbos e acelgas”, defende.

Portanto, realça, “nem sequer são recomendações para todos os alimentos com oxalatos, muito menos para as bebidas vegetais”, que vão ter pouca amêndoa no produto final.

Há bebidas vegetais melhores do que outras?

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De acordo com as Linhas de Orientação para uma Alimentação Vegetariana Saudável e com um documento sobre alimentação vegetariana em idade escolar do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), as bebidas vegetais, no geral, são fontes de vitamina B12 e vitamina D, porque são enriquecidas com estes micronutrientes.

As bebidas de soja, aveia, amêndoa e arroz que sejam fortificadas também são consideradas uma fonte de cálcio, e, embora não sejam um substituto perfeito do leite, podem ser incluídas numa alimentação saudável.

Num texto informativo da Food and Drug Administration (FDA), explica-se que, dada a riqueza nutricional do leite e derivados, não existe nenhum outro alimento que os substitua verdadeiramente. Segundo a FDA, “as bebidas de soja fortificadas com cálcio, vitamina A e vitamina D” são as que estão mais perto da composição do leite.

Ainda assim, salienta Sandra Silva, as bebidas vegetais não deixam de ser uma opção interessante “para quem não quiser ou não puder consumir” laticínios. 

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A nutricionista refere que, com exceção da bebida de coco, as bebidas vegetais “não têm gordura saturada nem colesterol, ao contrário dos produtos de origem animal”.

Se não forem açucaradas, estas bebidas “vão ter uma quantidade de energia baixa, podendo ser interessantes até para quem quer controlar o seu aporte calórico”, acrescenta.

Além disso, lembra, “se forem fortificadas em cálcio, vão ter um teor interessante deste nutriente”.

No que toca às desvantagens das bebidas vegetais, do ponto de vista de Sandra Silva, o preço é uma delas, porque, “apesar de ser cada vez mais baixo, ainda é superior ao do leite de vaca”.

O outro grande inconveniente é o facto de “quem vive em meios mais pequenos não ter tanta oferta, apesar de haver cada vez mais marcas de bebidas vegetais no mercado”, remata.

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Alimentação

8 Abr 2024 - 09:30

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